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Poderá uma alergia ser prevenida, diminuída ou retardada?

As alergias são cada vez mais uma parte comum das nossas vidas atuais. Mas o que são exatamente alergias?

6min ler Jun 6, 2016

A hipersensibilidade e as alergias acontecem quando o sistema imunitário responde de forma inapropriada a uma substância habitualmente inofensiva. Esta substância poderá ser por exemplo o pólen, o pó, um fármaco ou até mesmo um alimento. Entre os alimentos que mais frequentemente causam alergia incluem-se a proteína do leite de vaca, proteína da soja, ovos, peixe, marisco, frutos secos ou o trigo.


A proteína do leite de vaca é responsável por desencadear a alergia mais comum na primeira infância – dermite atópica – doença de pele, também designada por eczema, cujos sintomas podem tornar-se um motivo de grande preocupação para os pais e acima de tudo, um grande desconforto para o bebé.
As alergias alimentares afetam 6 a 8% dos bebés. Ocorrem habitualmente durante os primeiros meses de idade e estão diretamente relacionadas com o estado de maturação do sistema imunitário. Assim, numa fase inicial da vida do lactente, a função da barreira intestinal encontra-se ainda muito imatura e permeável à passagem de algumas macromoléculas (moléculas grandes), como são exemplo as proteínas, provocando uma reação adversa devido a uma resposta imunitária inadequada.
Acontece que, no primeiro contacto o sistema imunitário identifica certas proteínas alimentares como sendo agressivas e retém esta informação. No contacto seguinte, o sistema imunitário vai “acionar o alarme” e o que acontece neste momento é uma reação imunitária exacerbada. Os sintomas comuns são normalmente pele irritada, inflamada, pequenas erupções cutâneas, podendo ser acompanhada ou não de sintomas gastrintestinais.


Não se sabe exatamente a razão pela qual a incidência de alergias tem aumentado nos últimos anos.
Existem várias teorias sobre este assunto. Uma das teorias mais aceite é a de que nos tornámos demasiado “limpos”, demasiado “higiénicos”. Como consequência deste comportamento, o nosso sistema imunitário é confrontado atualmente com menos microrganismos ou bactérias, podendo tornar-se deste modo desequilibrado. Esta situação significa pois que o nosso sistema imunitário pode tornar-se hipersensível (demasiado ativo) a substâncias normais do ambiente, tais como proteínas alimentares, resultando assim em alergias.
A alergia alimentar à proteína do leite de vaca resulta de uma reação exagerada do sistema imunitário e surge tipicamente entre os 3 e os 5 meses de idade. Esta é a alergia alimentar mais frequente no primeiro ano de vida como vimos anteriormente.
Os sintomas mais comuns na alergia à proteína do leite de vaca incluem: manifestações cutâneas, gastrintestinais, e ainda respiratórias. Felizmente, a alergia à proteína do leite de vaca não é uma doença que permaneça ao longo da vida.

 

Mas voltando agora ao início da nossa conversa: poderá uma alergia ser prevenida, diminuída ou retardada?

Tomando medidas preventivas pode-se de facto fazer com que durante os primeiros anos de vida seja retardada ou mesmo que não chegue a manifestar- se a alergia.
Em cerca de metade das crianças com risco aumentado de alergia, o despoletar dessa alergia nos primeiros 3-5 anos pode ser prevenido. Este facto assume particular relevância para a dermite atópica (ou eczema atópico), que em cerca de 90% dos casos é a 1ª manifestação de todos os tipos de alergias.
Embora nunca possamos dizer que uma proteção total seja possível, ainda assim pode-se fazer muito com medidas preventivas relativamente simples e que se podem aplicar à generalidade das crianças.
As alergias acontecem através do contacto repetido com os alergénios e sob influência de fatores ambientais. Se alguns bebés têm tendência inata para desenvolver uma reação de hipersensibilidade, a esta tendência inata para alergia chama-se atopia familiar.
Se um dos progenitores sofre de alergia, o risco da criança desenvolver alergia é de 20-40%. No entanto, se ambos os progenitores sofrem da mesma doença alérgica o risco duplica, passando a cerca de 80%. Imaginemos ainda que nenhum dos progenitores tem história de alergias, ainda assim existe um risco alérgico de cerca de 15 %.
Vejamos então de que forma podemos intervir para prevenir ou retardar a alergia. 

 

Recomendações práticas para prevenção de alergias, em recém-nascidos com risco alérgico.

  • Identificação dos riscos alérgicos do lactente colhendo a história familiar.
  • Recomendações alimentares: (a) Alimentação do lactente – se possível o aleitamento materno deve ser exclusivo durante os primeiros 6 meses de idade. Não devem ser dados quaisquer suplementos de leite Infantil (fórmula standard) ou bebida de soja. Caso não possa amamentar em exclusivo, deve optar por dar uma fórmula infantil hipoalergénica (H.A.), com proteínas mais suaves e pré-digeridas e, com resultados clínicos comprovados. (b) Alimentação materna durante a gestação e período de amamentação: - não há nenhuma razão para fazer grandes restrições ou fazer uma dieta especial durante a gravidez. No entanto, a forma como se alimenta, aquilo que come diariamente vai ser determinante na saúde futura do seu filho. Coma de forma variada e equilibrada evitando excessos de determinados alimentos que têm maior potencial alergénio, como por exemplo leite, soja, frutos secos, marisco, morangos ou peixe. A moderação e bom senso devem estar sempre presentes. (c) A introdução da alimentação diversificada não deverá ser muito precoce nem muito tardia, ou seja, nunca antes dos 4 meses de idade nem depois dos 6 meses de idade. Os novos alimentos devem ser introduzidos de forma gradual, com bom senso, protelando um pouco mais os alimentos mais alergénios. Quando introduzir um novo alimento espere alguns dias (3 a 4 dias) para ver se existe alguma reação e também porque o bebé necessita de habituar-se a um novo sabor. Tenha calma, ele precisa de tempo para aprender a aceitar o sabor dos novos alimentos e para gostar.
  • Quanto aos fatores ambientais deve ser dada especial atenção à exposição passiva ao fumo do tabaco que é definitivamente nociva. A grávida deve abster-se de fumar e procurar ambientes livres do fumo de tabaco. Após o nascimento é importante que o bebé viva num espaço livre de fumo, num quarto bem arejado.

Lembre-se que o leite materno é a melhor forma de prevenir o seu filho. Prepare-se para a amamentação. Ao alimentar-se de forma correta também estará a contribuir para uma melhor produção de leite. A recomendação é que o leite humano seja dado de forma exclusiva durante os primeiros 6 meses de idade.
Se fez tudo o que podia e não consegue amamentar, ainda assim é possível prevenir até 50% o risco de alergias escolhendo o leite mais adequado, uma fórmula hipoalergénica (H.A) de eficácia comprovada. Estas fórmulas infantis têm de facto proteínas mais suaves e de mais fácil digestão para o bebé, sendo mais semelhantes às do leite materno.
Não tome qualquer iniciativa sem antes consultar um profissional de saúde que a poderá orientar a fazer a escolha mais acertada.
Lembre-se, a prevenção evita muitas complicações. Para quê arriscar?